terça-feira, 6 de fevereiro de 2018

Mário Jorge / SCAS Ano I Junho 1980 * Antonio Cabral Filho - RJ

MÁRIO JORGE / SCAS ANO I JUNHO 1980
Reeditada após trinta e sete anos
&
Nota de Ilma Fontes
IMPRESSÕES SOBRE A REIMPRESSÃO DE UM ORIGINAL (de) MÁRIO JORGE
Marcel Reginato
*
E o bilhete carinhoso de
ILMA FONTES
***

sábado, 2 de dezembro de 2017

Poemas de Mário Jorge - SE

Poemas de Mário Jorge - SE
Lave Maria cheia de graxa
o suor é convosco
&
De que estranhos esgotos
vem a lama onde habita
tão belos caranguejos?

De que tamanho sóis
nasce essa luz que ofusca
os olhos de minh'alma?

se eu soubesse diria
e esperava o eco e saberia
o silêncio das palavras.
&
Silêncio de verdes prados
nos olhos secos do amor
o grito se fez pecado
no ego que sei não sou
&
Viver como passarinho
e morrer 
às duras
penas
&
Verdecanavi
alto do avião
lativerdefundio canascida
latinegra vida fomedrada
verde cana vi alto do avião
a palavra fotograficamente
consumida anuncia avenida
verdecanavi...
&
mergulho lúcido no caos do ser
&
o pássaro pasa
cantando assovios
disfarça no voo
o canto desvio

o pássaro passa
e fica o azul
riscado de ausências
sob um sol janeiro

(Mário Jorge morreu aos 26 anos
 no dia 11 de janeiro de 1973)
&
Quem vê que veja
quem ser que seja
sei lá
quem vê que venha
quem vem que tenha
um sol
estrelas do deus-menino
desligadas do Natal.
&
Na boca do homem novo
(em construção) uma nova
linguagem ( em elaboração).
Renovar e renovar-se em
constante redefinição peran-
te a realidade, o contempo-
râneo, o vir a ser: poesia e 
poeta.
O verso morreu afogado no 
maremoto da nova informa
ção tecnológica.
Um mundo radicalmente
novo eclode dos escombros
da hora que vivemos.
Dinamitar os grilhões do
passado que impedem a
radical e profunda revisão
do hoje e sua negação.
Arte é forma de conheci
mento. É reconhecimento.
De sombras consumidas entre abismo
fiz-me marginauta pescador de estrelas
da imaginação

Cavalguei nuvens de Vênus e calvário
nos braços da menininha
agora nem mais nem menos
nem começo ou fim de linha

Fogo de mercúrio temperado em
chuvas de verão verão é um bom remédio
para loucuras bancas além de outras
&
Atenção
estamos vivendo os últimos momentos
da civilização ocidental podre
e doente. Salve Marte e Vênus
casados na força da bomba
na ira da hora, no soldo
No mais:
blood blá. blá, blá
Prumode blá, blá, blá.
&
Vago

Viver é a obra,
morrer é a meta.
O que mais sobra:
maldade hipocrisia.
O bem não resiste, sossobra.
Vida árida, vaga, fria.
&
Orientação

Menos que retratar
fazer
do verbo a bússola
para o amanhã
Menos que chorar
amar
em gestos e palavras
o braço que é trocado
por cifrões
Não mais murmúrios
de ventos noturnos.
Agora é o grito claro
despertando o sol
por sabres - dilacerado
antes mesmo da aurora.
Não mais a doce
esperança
ingênua como criança:
Hoje vale a certeza do
árduo caminho à frente
a ser trilhado levando a
verdade
feito tocha, canção e facca
com gosto de madrugada.
&
fumando um cigarro na tranquila
pois sei e todos sabem muito bem
a vida passa em nuvens e disfarça
as chuvas atômicas que vem

sem essa
um côro explode dentro da cuca
qualé a de fumaça?
vai dizendo enquanto
a nuvem traça no céu
um sol escuro
nas brechas novas da poluição

vênus venereas oremus saques
nos traques de São João
rei rei take me make a new poetry

(put a sound)
they know my secret
how a meeting i never go
so a grass away let's see
a fine way to the goal. 
***